Em julho de 1998, moradores do Campeche começaram a se articular, estimulados por uma pergunta a princípio simples: não seria importante termos uma rádio em nosso bairro? Quem a formulava era o jornalista Lúcio Haeser, morador do bairro, jornalista e um entusiasta do rádio. Uma primeira resposta veio no 07 de novembro daquele ano, numa assembleia de moradores que fundou a Associação Rádio Comunitária Campeche (ARCCA).
A autorização da concessão foi publicada no Diário Oficial da União em janeiro de 2004, mas a ARCCA só receberia a licença para a transmissão assinada em março de 2005. E foi no dia 2 de abril, a partir das 14 horas, que a Rádio Campeche começou as transmissões, na frequência 104,9 FM. A atual sede foi inaugurada em novembro de 2005.
A Rádio Campeche é uma associação de pessoas físicas, sem fins lucrativos, regida por legislação federal própria e pelo estatuto aprovado pela Assembleia Geral. O estatuto, vale lembrar, é um documento que todos os associados devem conhecer “de cabo a rabo”, para estarem cientes da proposta da rádio e de como participar de sua construção contínua. A ARCCA tem suas finalidades e instâncias de organização definidas nesse estatuto, diferenciando-se das rádios comerciais nos objetivos, conteúdo e forma.
Moradores da área de abrangência da rádio (Sul da Ilha) podem se associar. A ARCCA assume como referência geral para seu funcionamento a difusão de informação e cultura a partir da comunidade, situando-a em suas relações com a cidade, com o estado, com o país e demais povos, contribuindo para que os membros da comunidade possam exercer sua crítica à realidade em que vivem.
RÁDIO COMUNITÁRIA CAMPECHE: CORAÇÃO DO BAIRRO
Por Elaine Tavares, 30/01/2014.
A Rádio Comunitária Campeche segue cumprindo com seu papel estratégico de ser um espaço comunitário real para a vida que se expressa e luta nesse mítico bairro do sul de Florianópolis. Hoje – e sempre – tocada por um grupo cheio de vontade de realizar e construir, ela nasceu da necessidade concreta do movimento popular comunitário e se mantém como a antena do Campeche, informando sobre tudo que acontece no bairro, discutindo as lutas cotidianas por um lugar melhor para se viver, dando notícias sobre as batalhas que se travam na cidade no campo dos trabalhadores, no mundo popular.
O Campeche foi um dos primeiros bairros da cidade a iniciar a luta pela criação de um plano diretor. Nos anos 80, quando iniciou um forte movimento de migração do oeste/norte/sul no rumo da capital, os moradores compreenderam que sem uma organização capilar, unificada e comunitária, o crescimento desordenado engoliria a forma de vida que o bairro já havia escolhido para si. Enquanto no norte da ilha imperava a lógica do turismo de resultados, o sul insistia em viver de forma simples, com qualidade de vida, com cuidados com o lixo, o saneamento e principalmente com planejamento. Foi aí que começaram a surgir os movimentos de luta por um plano diretor.
Quando o país avançou para a proposta do Fórum das Cidades, o Campeche já estava bem à frente nesse debate, inclusive com seu plano formulado. E foi dessa movimentação em torno da organização do bairro e do pensar a comunidade dentro da cidade que nasceu o desejo de uma comunicação mais eficaz, que chegasse em cada morador. Primeiro, o movimento organizado criou um jornal impresso, o Fala Campeche, e depois começou a perceber que a palavra falada também poderia potencializar as lutas. Assim, no ano de 1998 começou a movimentação por uma rádio comunitária até que, finalmente, em 2005, foi possível fazer a primeira transmissão, ainda sem um lugar próprio, na casa do jornalista Lúcio Haeser, também morador do Campeche. Desde aí, a vontade de fazer a rádio real cresceu e as coisas foram acontecendo. Junta documento, leva para Brasília, compra transmissor. Tudo isso acompanhando o movimento comunitário que seguia firme.
Naquele ano de 2005 veio a legalização da emissora, depois de sete anos de batalha. Com tudo certo em Brasília, a rádio já podia funcionar sem medo de ser invadida pela Anatel, no dia 104.9. Uma parceria com o Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis garantiu um terreno e a sede foi construída num mutirão. Espaço pequeno, mas suficiente para irradiar a voz do bairro. E foi em 2006 que começou o primeiro programa ao vivo da Rádio Campeche: o Campo de Peixe, no ar até hoje. O programa teve como primeira formação, Alícia Alão,Glauco Marques, Débora Daniel e Elaine Tavares. Mais tarde, Alícia e Débora foram buscar novos rumos e o Campo de Peixe incorporou o estudante de jornalismo Rubens Lopes. O programa tinha – e tem – o propósito de trazer as lutas da comunidade, os temas da cidade, do estado e da América Latina. Informação e formação. Notícia e debate. O jornalismo como forma de conhecimento, trazendo ao ouvinte aquela abordagem que ele não encontra na TV ou no jornal convencional.
Pois não demorou muito e logo outros programas ao vivo começaram a surgir. Havia toda uma demanda reprimida por um espaço onde expressar a voz e a informação. Programa de cultura, de juventude, de música, de informação comunitária, de ecologia, esportes. Tudo dentro da lógica de que só poderia ser programador quem morasse no bairro. E assim tem sido até hoje. A Rádio é comunitária de fato, propaga as vozes do bairro, é feita por moradores, por quem vive e constrói a luta no Campeche. E é por trazer uma informação diferenciada e contextualizada que a rádio tem sido a ponta de lança na construção do Plano Diretor Participativo e na luta que se trava por uma cidade boa de morar, que garanta a todos dignidade e direitos. Praticamente todos os programas dão espaço para esse debate que define o povo do Campeche. Uma gente que luta pelo bem viver no bairro e na cidade.
Na rádio comunitária não tem propaganda. O que rola são os apoios culturais. O comércio local apoia com uma quantia fixa, e a rádio anuncia o apoio. Nada de anúncio de produtos ou coisa assim. É parceria cultural e política e aí política no sentido bom, de ação conjunta e viva na comunidade.
Assim, a cada dia que passa a rádio vai fortalecendo, apresentando programas que fogem do lugar comum das rádios comerciais. No dial da Comunitária podem ser escutadas as vozes dos pescadores, das rendeiras, dos ambulantes da praia, dos moradores, dos comerciantes, dos contadores de história, das figuras históricas do bairro, os cineastas locais, os cantores, os artesãos, enfim, qualquer um que tenha algo a dizer. E, além dos programas que apresentam a melhor música local, nacional e do mundo (fora do circuito comercial), há os programas de interesse comunitário. A vaga de emprego, os horários dos médicos e dentistas no posto de saúde, as reuniões do Plano Diretor. Então, ao ligar na frequência 98.3 FM os moradores encontram a boa música do interior no Chão de Terra e no American Country, encontram poesia e discussão cultural no Sábado Arrastão, jornalismo no Campo de Peixe, ouvem rock no Fanzine Sonoro, curtem o melhor do Rap no Rap Hour, sabem das propostas alternativas no Ecologia Humana. É um mosaico de temas e sons, tudo pensado e feito com o amor de quem mora e vive no Campeche.
Por algum tempo também foi possível contar com vários outros programas como o Vozes em Movimento, que trazia a fala dos movimentos sociais e as lutas do campo e da cidade. O Sábado Literário, aos sábados, quando o jornalista Raimundo Caruso trazia sempre um escritor catarinense. Falava-se de literatura, de como se escreve, dos problemas dos leitores, dos que escrevem. Histórias de vida, coisas engraçadas, segredos de escritor. Uma beleza, joia rara na mediocridade do rádio florianopolitano. Também já tivemos a presença dos alunos da Escola Brigadeiro Eduardo Gomes, com programas produzidos a partir de oficinas realizadas por Débora Daniel, Révero Ribeiro e Aline Maciel. Tivemos ainda o privilégio de compartilhar a vida e o trabalho com o Mano F, que tão jovem encantou. Enfim, alguns programas vão e vêm, de acordo com as possibilidades das pessoas em contribuir. Mas, sempre é uma intervenção bonita, na qual o foco é a comunidade.
Na Travessa das Chagas Pires, uma pequena ruela do Campeche, viceja esse projeto bonito, hoje no 98.3 do dial, que se faz dentro de uma pequena casinha. Ali, entre fios, microfones, e outros tantos cacarecos que vão se acumulando dos balaios comunitários, circula a vida da comunidade. Chegam os artistas, os escritores, os líderes comunitários, os moradores, enfim, chega a força viva desse bairro que aprendeu na luta que para ser um lugar de bom-viver é preciso união e cooperação.
A Rádio Campeche é hoje o coração do bairro e ele bate, compassado, na batida dos tambores, do cavaco, do violão e da informação. Quem cruzar as fronteiras da comunidade é só sintonizar: 98.3. Ali, a vida do Campeche é primeiro lugar. Para quem está longe, basta entrar na página da rádio e curtir. www.radiocampeche.com
A história contada pelos que a vem fazendo
DIRETORIAS QUE JÁ PASSARAM PELA ARCCA
1ª –1999 – Coordenador Geral: Lucio Flavio Haeser
Aldo Votto
Joel Vigano
Angela de Fátima de Maria
Edson Maciel Lanes
Serapião Manoel da Silva
Ubiratan de Mattos Saldanha
Gilberto Pinheiro
Jacó Florencio da Rocha
Revero Paula Ribeiro
Fernando Ponte de Souza
2ª 2003 – Coordenador Geral: Lucio Flavio Haeser
Aldo Votto
Joel Vigano
Angela de Fátima de Maria
Edson Maciel Lanes
Serapião Manoel da Silva
Ubiratan de Mattos Saldanha
Gilberto Pinheiro
Jacó Florencio da Rocha
Revero Paula Ribeiro
Fernando Ponte de Souza
3ª2005 Coordenador Geral: Delfino Vieira Coelho
Janete Teixeira
Jadna Pizzolotto
Eva Wilma Carneiro Bezerra
Ubiratan de Mattos Saldanha
Clênio José Bragagnolo
Silvio da Costa Pereira
Révero Paula Ribeiro
Kucio Flavio Haeser
Fernando Ponte
Ângela de Fátima de Maria
Ana Carla Pimenta
Glauco Marques
4ª 2007-Coordenador Geral: Ubiratam de Mattos Saldanha
Delfino Vieira Coelho
Alicia Salgagni Alão
Nira Azibeiro Pomar
Clênio Braganholo
Paulo Ibanez Kunzler Moreira
Glauco Marques
Aldo Votto
Debora Mendes Bregue Daniel
Eva Carneiro Bezerra
Jadna Pizzolloto
Nilo Aguiar
Révero Paula Ribeiro
5ª2009- Coordenadora Geral: Aline Razzera Maciel
Leonardo Alves da Cunha Carvalho
Tomas Figueiredo Fontan
Ubiratan de Mattos Saldanha
Glauco Carvalho Marques
Gustavo Tirelli Ponte de Souza
Sigval Jidson Shaitel
Nilo Sergio Aguiar
Clênio José Braganholo
Paulo Ibanez Kunzler Moreira
Révero Paula Ribeiro
Camila Vieira da Fonseca Nunes
Elaine Tavares
6ª 2011- Coordenadora Geral: Aline Razzera Maciel
Elaine Tavares
Sigval Jidson Shaitel
Gustavo Tirelli Ponte de Souza
Gerson Ferraz Sampaio
Rubens Lopes
Révero Paula Ribeiro
Angela de Fátima Maria
Debora Mendes Bregue Daniel
Guilherme Razzera Maciel
Mauro Sniecikowski
Renato Sperb
Tomás Figueiredo Fontan
7ª 2013- Coordenador Geral: Glauco Carvalho Marques
Bianca Quiumento Velloso
Eros Marion Mussoi
Arnaldo Prudencio
Arine Pfeifer Coelho
Rubens Lopes
Paulo Renato Venuto
Ataide Silva
Camila Vieira Neves
Delson de Valois
Fabiana da Silva
Lázaro Bregue Daniel
Renato Sperb
8ª 2015 Coordenador Geral: Arnaldo Prudencio
Arine Pfeifer Coelho
Denise Ana Damiani
Leidemar Pereira dos Reis
Rubens Lopes
Elaine J. T. Tavares
Paulo Renato Venuto
Ataide Silva
Bianca Quiumneto Velloso
Eros Marion Mussoi
Fabiana da Silva
Lázaro Bregue Daniel
Renato Sperb
9ª 2017 Coordenador Geral: Arnaldo Prudencio
Denise Damiani
Valquíria
Elaine Tavares
Rubens Lopes
Luiz Gustavo
Elias
10ª 2019 Coordenador Geral: Ubiratan Saldanha
Débora Daniel
Elaine Tavares
Rubens Lopes
Juliano Souza
Carlos Eduardo Gomes
Gerson Ferraz
11ª 2021 Coordenador Geral: Rubens Lopes
CHAPA: COMUNIDADE, RESISTÊNCIA e LUTA
Bianca Velloso
Conrad Rose
Débora Daniel
Elaine Tavares
Julita Ferraz
Nira Pomar
Rubens Lopes
CONSELHO FISCAL:
Aline Maciel
Angela de Maria
Daniel José da Silva
Eros Mussoi
Maria Lúcia Chagas
Nestor Breda