O terreno é pequeno, tem tamanho no comprimento, mas é estreito. Fica colado no mar da Armação. Os vizinhos de cada lado são moradores de longa data. A proposta de construção é de um prédio de sete andares, com apartamento do tipo estúdio, que nada mais são do que as velhas quitinetes, só de alto padrão, provavelmente para servir pessoas sozinhas, no máximo casais, ou para ser entregue ao famoso Airbnb, um sistema de aluguel temporário. Ou seja, é muito provável que seja um imóvel para especulação e/ou moradia na temporada. E a tradicional praia da Armação do Pântano do Sul, que já perdeu praticamente toda a sua areia, vira só um lugar especulado. Pouco se dá aos empresários do cimento se a comunidade não quer saber daquele monstro na praia. Quem é o povo para querer? Manda o dinheiro.
Para a comunidade, o prédio, se erguido, inicia uma fase de gentrificação que não terá parada. E o que é isso? É um processo de atração de investimentos para o local que expulsa velhos moradores, aumenta o custo de vida do local e provoca a segregação sócio/espacial, criando espaços para ricos e outros para pobres, até que tudo seja “limpo” para dar lugar aos empreendimentos de luxo para o deleite de quem pode pagar. Se este prédio vingar, pode-se dar adeus ao cenário bucólico de barcos, pescadores e gente lenta.
E foi para gritar contra a construção do prédio que a comunidade saiu às ruas neste sábado, dia 07 de junho. E com ela, saíram também os lutadores sociais de todo o canto da cidade. Dos lugares já vencidos pelo bonde do cimento e dos que ainda resistem. O sul da ilha tem sido a bola da vez dos planos de “crescimento sem plano” das últimas administrações da prefeitura, principalmente a do Gean Loureiro e agora a do Topázio Neto. Abrem-se imensos condomínios ou prédios nos vazios urbanos, sem que haja qualquer mudança na estrutura do bairro. Não há plano de saneamento, nem viário, nem de abastecimento de luz e água, e muito menos de mobilidade. Adensam as áreas, enchem de gente, e os caminhos se entopem com engarrafamentos sem fim. Que se lasquem os trabalhadores.
Para evitar esse caos os moradores se mobilizaram, fizeram reuniões, organizaram a comunidade e neste sábado foram para a rua. Já no começo do ato, foram recebidos, é claro, por carros da polícia protegendo o portão do prédio. Mas, a energia não baixou. Com cartazes produzidos pelas mãos comunitárias eles circularam pelas ruas do bairro, recebendo o apoio de quem passava de carro. Foi uma caminhada alegre, de esperança. Os moradores esperam que com esta demonstração de força o projeto seja barrado. No caminho, feito na lentidão da vida, elementos como a pesca, os animais marinhos, e a vida simples foram representados. A Armação é um espaço ainda bucólico, com casas baixas e jardins. O prédio de sete andares será uma aberração. Há que barrá-lo. Ou isso, ou a escavadeira do “progresso” passará impassível pela vida de todos. Foi uma primeira manifestação. A luta segue.