Texto do movimento SOS Ilha da Magia
Fortunas estão sendo construídas enquanto a magia da ilha está sendo destruída. Este é o trágico e revoltante retrato da Florianópolis atual. Nossas águas poluídas e nossas praias e dunas soterradas por lama e esgoto. Restingas dilaceradas por concreto nas planícies do sul, Mata Atlântica e seus Garapuvus decepados por moto serras para loteamento no Córrego Grande, nossa Lagoa da Conceição ferida de morte pelo esgoto e famílias sendo despejadas no Maciço do Morro da Cruz.
O fato é que a ilha não aguenta mais negligência, inações, omissões e tanto concreto sobre as suas costas e encostas. Se hoje os habitantes de Florianópolis sofrem com a estiagem ou com as chuvas volumosas, cada vez mais intensas e frequentes, é por causa desta monocultura do pensamento e sua visão limitada de “progresso” propagandeada e implementada ao longo de tantos anos: toneladas de concreto, “asfaltaço” sem sistemas de drenagem ou qualquer cuidado com bueiros e bocas de lobo, construções em cima de áreas de preservação ambiental e a ausência de sistemas de saneamento básico inteligentes. E este cenário vai piorar. No sul da ilha, as mudanças climáticas já dão sinais de que a cidade está sendo afetada.
Alinhado com a política nacional bolsonarista de desmonte da legislação ambiental, o Prefeito Gean colocou a cidade à venda e está “passando a boiada”, ou, melhor, a patrola. Será que é para pagar dívidas de campanhas e usar como moeda de troca, para se candidatar a Governador e lotear todo o Estado? O fato é que enquanto a terra é comida por retroescavadeiras, engordam os bolsos dos setores da especulação imobiliária, do turismo predatório e da mídia que propagandeia esta visão da cidade como um imenso beach-clube para os ricos.
Gean avança com o projeto da faraônica “Megalo-Marina”, que, se concretizado, terá imenso impacto negativo na questão ambiental, paisagística , cultural, econômica e social da cidade, intensificando o já caótico trânsito de umas das piores mobilidades urbanas do mundo e prejudicando diretamente centenas de famílias que dependem da pesca e da maricultura na Baía Norte. Essa marina com certeza vai elevar o valor dos imóveis justamente na região mais cara da cidade, a Beira Mar. Enquanto os bairros mais empobrecidos continuam a míngua.
Todos os seres viventes são diretamente atingidos por estas políticas urbanas ecocidas, que destroem plantas, animais, pessoas, rios e lagoas. O maior crime ambiental da nossa história na Lagoa da Conceição, anunciado por técnicos da UFSC e coletivos ambientalistas e responsabilidade da CASAN e da Prefeitura (que contrata as concessionárias), tem muito a dizer sobre isso. Com tantas espécies morrendo sem oxigênio, sendo asfixiadas, em um triste paralelo com o cenário pandêmico em que vivemos, além de todas as dezenas de famílias atingidas, que tiveram suas vidas afetadas e seguem em luta pela reparação integral de seus direitos e pela participação no processo. E, também, o povo que vive nas periferias que, por falta de uma política habitacional, reside precariamente em morros e áreas de risco, com um claro recorte racial, sofrendo com as fortes chuvas, como é o caso de Ana Cristina Martins Lopes e sua filha Letícia Lopes Machado, que perderam suas vidas em um deslizamento de terra no bairro Saco Grande no início deste ano.
Se Gean colocou a cidade à venda aos seus amigos que só estão preocupados com os lucros pessoais e de suas empresas, quem é que vai pagar pela destruição ambiental? Nós é que não estamos dispostas a pagar esta salgada fatura, cujos juros serão ainda mais pesados para as próximas gerações.
Estamos lutando por transparência, por informações, por participação social nas decisões sobre que cidade queremos.
Não queremos que políticos e endinheirados, seja no âmbito do município, do estado ou do país explorem nossas capacidades naturais e nos deixem com o “bagaço”. Lutamos pelo Direito à Cidade com justiça social e equidade. Consideramos urgente repensarmos de forma coletiva o uso dos territórios e o planejamento de nossas cidades. Precisamos construir modos de viver que sejam mais justos socialmente, ambientalmente e economicamente e que lancem base para uma melhor relação com os demais seres viventes.
Por isto, estamos nos organizando em uma rede de movimentos sociais, ambientalistas, entidades e pessoas indignadas para denunciar todos estes absurdos e barrar estes retrocessos.
Desde o dia 20/07 ocupamos as ruas e as redes com a campanha “SOS Ilha da Magia”, e no dia 30/07 faremos um ato em frente à Catedral para pressionar o Prefeito