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A potência das alegorias de Glauber Rocha: lentes para visualizar o que está acontecendo em Florianópolis e no Brasil.

 

Desde que a Prefeitura Municipal de Florianópolis anunciou a inusitada proposta de transferir para as Organizações Sociais a administração de Creches, UPAS e Postos de Saúde, tenho me debruçado sobre a obra de Glauber Rocha para compreender o que estamos vivenciando no Brasil. Afinal, a ação do executivo municipal é apenas uma “micropolítica” do saque à riqueza nacional que está em curso nosso país.

Glauber Rocha inaugurou uma nova estética na produção do cinema nacional, se utilizando de dados reais do que estava acontecendo no Brasil e na América Latina, o cineasta cria o país fictício de Eldorado. Na trama, o país vive uma polarização em torno do líder populista, o Governador Felipe Vieira e o Senador Porfirio Díaz, representante da extrema direita. No meio da convulsão e da desordem política representada na trama, temos o Jornalista Paulo Martins (protagonista do longa) e Júlio Fontez, proprietário de um grande grupo de empresas da área de comunicação (Rádio, TV, Jornal) que utiliza esses veículos, que é uma concessão pública ao sabor de seus interesses econômicos.

Bebendo na estética do surrealismo, essa obra nos oferece elementos muito interessantes para analisarmos as ações da prefeitura municipal e da mídia comercial na “Ilha da Magia”. O executivo que afirma não ter dinheiro para abrir a UPA do Continente, destina milhões para os principais canais de TV para veiculação de uma propaganda tendenciosa e mais recente para supostamente dialogar com os servidores em greve. Cabe destacar que o Prefeito tem se recusado a sentar nas mesas de negociações, mandando representantes.

A prefeitura insiste em não ouvir os Conselhos Municipais de Educação e Saúde, as recomendações do Ministério Público, da Procuradoria do Legislativo Municipal, das entidades de classes e a população em geral. É como se estivéssemos vivendo em uma “Ilha em Transe”.

Nesta terça, a mobilização dos trabalhadores completou 27 dias de greve, em assembleia eles rejeitaram por unanimidade a proposta punitiva do prefeito. Os próximos dias serão de intenso debate com a população de Florianópolis nos bairros e os servidores aguardam uma proposta decente do executivo para avaliar na próxima assembleia na quinta-feira (10/5).

Foto: Assembleia de Servidores e Glauber Rocha filmando “Terra em Transe”

Adaptação de Valdeci Reis/Rádio Campeche