Acusa-se o serviço público, muitas vezes, dele ter permanecido no século XIX. Mas isso não é justo nem verdadeiro. Por meio do esforço dos profissionais, das famílias, dos(as) pesquisadores da área, dos(as) ativistas sociais, dentre outros, o serviço público brasileiro é o que mais e melhor soube incorporar as grandes questões de nosso tempo e delas tratar com dignidade, ainda que com muitos problemas. Não é por outra razão que movimentos e milícias de direita querem calar nossos professores e destruir todos os serviços públicos.
Na verdade, o Brasil que ficou no século XIX é o país do capitalismo predatório que aqui se pratica e o salário que aqui se paga; são nossas elites políticas e intelectuais que continuam a criminalizar os pobres e os movimentos sociais dos trabalhadores; são aqueles que praticam e legitimam o racismo, a homofobia, os sexismos e a violência como forma de lidar com os conflitos sociais. Do século XIX também é a nossa atual legislação trabalhista e nossa estrutura agrária. Do século XIX é o nosso parlamento e nosso judiciário, tanto em sua composição quanto em sua atuação. Em relação a estas instituições, não há dúvida que o serviço público é muito mais contemporâneo, democrático e avançado do que todas elas.
Reportagem de Valdeci Reis.