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Arte que grita por igualdade racial

Sérgio Adriano H faz uma ação no próximo dia 9, na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis

Artista da Geração 2000, um dos mais importantes de Santa Catarina, Sérgio Adriano H, que vive e atua entre Joinville (SC) e São Paulo (SP), usufrui os resultados de intenso trabalho em 20 anos de carreira. Ele fecha 2021 com um balanço positivo, expõe na ambicionada Fábrica de Arte Marcos Amaro – Fama Museu, localizado em Itu (SP), está envolvido em dois livros, tem obras incluídas em coleções públicas e particulares de Brasília, Curitiba, São Paulo e Santa Catarina. Além disso, em novembro volta a circular por dez cidades de Santa Catarina com o projeto “Palavra Tomada” com o qual conquistou o Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Artes 2019. A jornada começa no dia 9 de novembro, na Fundação Cultural Badesc, onde o artista expõe entre 10h e 15h.

Esse programa do governo do Estado, obtido por Sérgio em 2014, 2017, 2019 e 2020 – assegura experiência na estruturação profissional da carreira, expande as ressonâncias de sua representatividade na arte contemporânea e ajuda a estabelecer parcerias em favor da circulação dos trabalhos, da reflexão e produção de conhecimento. Nessa perspectiva, a descentralização das ações proposta pelo edital se ajusta aos interesses do artista que aprecia estar nas ruas, onde expõe nas calçadas, nas escadarias, em lugares movimentados. No começo da trajetória, como um mascate, carrega as obras dentro de um conjunto de malas transportado por um carrinho de duas rodas. “Ultrapassar fronteiras de espaço, expectativas, cores, credos, classes sociais e instituições intelectuais é um dos fundamentos da minha arte. Mais que uma escolha, é o que me move”, explica Sérgio Adriano. “Meus projetos são baseados em falar com as pessoas”, diz ele que quer o contato direto com o público, tanto que, em 2017, constrói a Bike Galeria com a qual se desloca pelas cidades, em praças, mercados públicos, calçadões, universidades e escolas. A intenção é garantir o acesso à arte, conversar e alcançar quem não costuma acompanhar o circuito de arte contemporânea, colocar artista-obra-público em diálogo e estimular experimentações estéticas.

Um de seus irmãos, Hero Dias (1966-2018), foi fundamental na determinação de estar nas ruas. Embora com um artista dentro de casa, que falava sobre arte, Hero nunca tinha ido a um museu. “O começo de minha trajetória se dá em 2001, meu irmão só foi a um museu em 2013, porque não fomos educados a frequentar instituições e espaços de arte. Depois disso, ele foi estudar desenho na Casa de Cultura”, diz Sérgio Adriano H que, ao perceber ao seu lado alguém que não se permitia ir a um museu, quis, então, trabalhar para expor não só em museus, mas também ir atrás das pessoas para que elas se permitissem a ver uma arte de boa qualidade, apreciar obras também montadas em exposições de instituições museológicas e galerias. “Quero despertar o desejo pela arte, despertar o desejo de levar as pessoas a sonhar”, sintetiza Sérgio. “Em um mundo cada vez mais conectado na ignorância coletiva, a arte cumpre seu papel resiliente no despertar dos questionamentos e na liberdade individual de pensar, concluir e se expressar.”

Papel político 

A exposição “Palavra Tomada” afirma-se num contexto de resistência. Embasa o projeto com dados estarrecedores da atual realidade brasileira com o aumento dos índices de morte e violência contra mulheres e jovens negros/pardos. Como poucos no cenário artístico do Brasil, Sérgio Adriano assume um papel político para denunciar práticas eurocêntricas, colonizadas, racistas. Sempre interessado nos fluxos de informações na sociedade contemporânea, naquilo que é apresentado como “verdade”, nesta série de dez fotografias e objetos apresentados na exposição que discutem a questão do racismo estrutural no Brasil.

As palavras interessam ao artista que descontrói discursos históricos, “verdades apresentadas”, como ele prefere dizer. Suas investigações passam pelas enciclopédias, dicionários, livros de arte e revistas.  Nestas imagens, recorta palavras para montá-las em carimbos apresentados na boca do artista. Com os lábios cerrados, mostra, entre outras, as palavras preto e ordem e progresso. Carimbos são peças feitas de metal, madeira ou borracha que contém sinais gráficos em relevo que servem para marcar à tinta documentos, papéis, etc. Servem também, quando feitos de metal, para marcar o gado e, no passado escravocrata brasileiro, a pele para identificar a quem pertence àquele animal ou corpo humano.

“A obra de Sérgio Adriano se caracteriza por trazer em si esmero técnico, conceitual, político e talvez, principalmente, pela conscientização através da palavra, do “verbo”. Em tempos de destruição do país através de políticas suicidas calcadas em um individualismo extremo, Sérgio faz da palavra elemento fundamental na construção de uma poética potente que investiga a população negra no Brasil, marcada desde o berço, para ocupar espaços pré-determinados e de pouca visibilidade”, afirma a curadora Rosana Paulino. Também artista, ela é referência na luta contra a invisibilidade da produção afro-brasileira no circuito de arte contemporânea. Usa seus conhecimentos para denunciar obstáculos engendrados pelo racismo estrutural, defendem a ampliação dos limites institucionais e o protagonismo dos negros na sociedade.

Sobre o artista 

Sérgio Adriano H nasce em 1975, em Joinville (SC). Artista visual, performer e pesquisador. Vive e produz entre Joinville e São Paulo. Formado em artes visuais e mestre em filosofia. Tem trabalhos em acervos públicos e particulares. Incluído em 2014 no livro “Construtores das Artes Visuais: Cinco Séculos de Artes em Santa Catarina” como um dos 30 artistas mais influentes do Estado. Já integrou mais de 120 exposições individuais, coletivas e salões. Conquistou, entre outras premiações, o Reconhecimento por Trajetória Cultural Aldir Blanc SC (2020), Medalha Victor Meirelles – Personalidade Artes Visuais (2018), concedida pela Academia Catarinense de Letras e Artes (Acla), o da Aliança Francesa de Arte Contemporânea 2018 e o 10° Salão Nacional Elke Hering (2012).  Com objetos, fotografias e vídeos, a prática do artista propõe reflexões sobre temas existenciais pensados dentro do sistema simbólico chamado como “verdade”. Essas discussões abrangem questões sobre a morte, a identidade racial, a violência e o apagamento social. A crítica política e social é forjada permanentemente na experiência de campo, no contexto da vida real e nas situações do cotidiano. As fotografias, instalações, performances e objetos são criados justamente para fazer pensar e provocar incômodo diante de uma realidade de dor e sofrimento.

Sobre a curadora 

Rosana Paulino (São Paulo, 1967) é uma artista brasileira, educadora e curadora. É doutora em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e especialista em gravura pelo London Print Studio. Suas obras têm como foco principal as questões sociais, de etnia e de gênero que dizem respeito à mulher negra na sociedade brasileira. Nesse sentido, sua produção busca questionar os estereótipos de beleza e comportamento que historicamente estão associados às mulheres negras e mestiças. Chamam a atenção também para a violência dirigida à população negra, intermediando uma reflexão crítica sobre a contemporaneidade e a vida da própria artista.

FICHA TÉCNICA

Artista: Sérgio Adriano H

Curadora: Rosana Paulino

Produtor: Franzoi

Imprensa: Néri Pedroso

Design Gráfico: Jan M.O.

Assessoria educacional: Cyntia Werner

Assessoria jurídica: Fausto Rangel

Palestrantes: Célia Maria Ramos, Evandro Silva, Jadir Fagundes e Orlando Gulonda

 

CONQUISTAS

Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2014 – “O Visível do Invisível” (Rio do Sul, São Bento do Sul, Blumenau, Jaraguá do Sul, Joinville, São Francisco do Sul, Itajaí, São José, Florianópolis, Biguaçu, Criciúma, Chapecó, Concórdia, Mafra e Rio Negrinho)

 Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2017 – “Ruptura do Invisível” (Florianópolis, Jaraguá do Sul, Joinville e Blumenau)

Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2019 – “Palavra Tomada” (Florianópolis, Criciúma, São José, Itajaí, Chapecó, Joinville, Jaraguá do Sul, Blumenau, São Francisco do Sul e Lages)

Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2020 – “Eu Não Consigo Respirar” (a ser realizado)

 

SERVIÇO

Circulação em Santa Catarina

Florianópolis, Fundação Cultural Badesc – 9.11.21, 10h às 15h

Criciúma, Praça Nereu Ramos –10.11.21, 10h às 15h

São José, Praça Hercílio Luz – 11.11.21, 10h às 15h

Itajaí, Calçadão da Hercílio Luz – 12.11.21, 10h às 15h

Chapecó, Praça Coronel Bertaso – 13.11.21, 11h às 16h

Joinville, EEB. Profº. Germano Timm, rua Eduardo Krisch, 34, bairro América – 16.11.2021, 7h às 12h

Jaraguá do Sul, Associação dos Artistas Plástico de Jaraguá, Praça Ângelo Piazera – 17.11.21, 10h às 15h

Blumenau, Museu de Arte de Blumenau, rua 15 de Novembro, 161, centro – 23.11.21, 10h às 15h

São Francisco do Sul, Praça Getúlio Vargas – 24.11.21, 10h às 15h

Lages, Praça da Catedral – 27.11.21, 10h às 15h

 

REALIZAÇÃO

Edital Elisabete Anderle de Apoio à Cultura ∕ Artes – Edição 2019, Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Governo do Estado de Santa Catarina

 

APOIO

Fundação Cultural Badesc – Florianópolis, Museu de Arte de Blumenau – Blumenau, Associação dos Artistas Plástico de Jaraguá – Jaraguá do Sul e EEB. Prof. Germano Timm – Joinville

 

SAIBA MAIS

https://sergioadrianoh.wixsite.com/palavratomada

facebook.com/sergioadrianoh

Instagran/sergio_adriano_h

Flick: Sergio Adriano H

 CONTATOS

Ass. imprensa: NProduções Néri Pedroso (jorn.) (48) 9-9911-9837 (whats), Sérgio Adriano H (11) 9-4265-5179